REVIRAVOLTA

A minha cara preta
Denuncia a aminha raça
O primeiro a saudar
Com certeza nunca falha

Escuta a gargalhada
Vem cheio de graça
Azeite cachaça
Fazendo pirraça
Laroye

Exú não atrapalha
Só arrasta canalha
Bota fogo na palha
De toda senzala

Esfumaça a batalha
Incensa a estrada
Da dura caminhada
Longa jornada

Me inspiro em Exú
Atropelo a branquelada
Azeda, covarde, inexata

E icenso o caminho q
Que vai dar na liberdade
A fúria me invade
Não sou covarde

Luto, atrapalho, arrasto, pirraço
Calçado ou descalço, apunhalo
Pela frente ou pelas costas
não me importa
quero o meu sangue de volta
vingança por qualquer
que seja a proposta

na escrita, na fala, na bala
na marra, na espada
a ancestralidade não se cala

comigo ninguém pode
liberdade até a morte
o obé quem faz o corte
e eu só creio no sangue do bode

o ajeum nenhum branco dividiu comigo
na hora do perigo foram os meus
quem me deram abrigo
minha iyabá oprimida
no ilé do opressor
escravizada, submetida
a um salário de horror

Isso retorna
minha fúria tem volta
sou um perigo
minha lança eu mesmo afino

O padè ta ajeitado
tudo está no nosso lado
já foi feto o despacho,
estou pronto pro arregaço
o corpo fechado
Ogum no meu lado
O vento soprando
A mata queimando
E nos desvendando

sem pena, sem dó, sem medo.

OLUKEMI


*obra de Guache Marqueswww.guache.blogger.com.br/